O Cinéfilo



 
O CINEMA

Hoje acordei em mim, o cinéfilo nostálgico que sou.
Sinto mesmo saudades, de ir um cinema do antigamente. Em vez de ver os filmes na televisão, no computador, no tablet ou outro leitor moderno.
A primeira vez que entrei numa sala de cinema foi no antigo Éden Cinema, de Alcântara tinha sete ou oito anos, fui com os meus padrinhos. Gostei dos bonecos animados a cores. Mas o filme era a preto e branco, era um filme de cowboys, com muitos tiros mas não o vi todo, também como não conseguia ler as legendas tornou-se aborrecido. Os meus padrinhos, suponho que também não gostaram.
Mais tarde tinha já dezasseis ou dezassete anos, tive uma  segunda experiência já num cinema mais confortável. Fui ver Branca de Neve e os Sete Anões de Walt Disney, e foi um sonho. Fiquei fã da 7ª Arte.
Sinto saudades ainda do ambiente de uma sala de cinema repleta de expectadores.

Eis minha sessão, de preferência nocturna, de cinema:
 Munido do bilhete previamente adquirido, e de um pacote de pipocas, aguardava com expectativa a hora de entrada vendo os cartazes do filme do dia, e os do próximo filme.
Chegada a hora passava pelo porteiro que retirava ao bilhete o pedaço referente ao controlo, depois, pisava a macia  passadeira vermelha e guiado pelo arrumador que me entregava o programa, seguia para o meu lugar agradecendo-lhe com uma moeda, e recebia um programa.
Depois refastelado na cómoda cadeira, escutava a suave música de fundo que tentava romper o abafado sussurrar das conversas na sala repleta. 
Soava o gongo. A luz, a música da sala e o ruído das vozes, iam-se esvaindo lentamente passando do claro ao escuro e do murmúrio ao silêncio completo. As cortinas do palco abriam-se devagar enquanto a luz do projector ondeava já sobre elas o logótipo do Castelo Lopes. Após as inevitáveis notícias do "Assim Vai o Mundo" e da propaganda do SNI, tudo a preto e branco, a tela brilhava e ganhava outra vida inundando-se do maravilhoso tecnicolor. Ouvia-se o rugir do leão da Metro e, após uma curta-metragem do  "Looney Tunes" onde era estrela o engraçado Bugs Bunny. Começava o filme que enchia a tela com o esplêndido Cinemascópio de"Ben-Hur ". Preparava-me então para cerca de quatro horas, de bom cinema. Sinto saudades.
Foi este que me veio agora à cabeça, mas podia ser outro dos excelentes filmes que me marcaram ao longo da vida, podia ser por exemplo, uma boa " coboiada" com  John Wayne , de preferência dirigida por John Ford, porque o ritual era o mesmo.

 Sinto saudades do aconchego de uma plateia repleta, assistindo em silêncio, cortado de vez em quando por um pigarrear, um fungar, ou uma sonora gargalhada  e vezes, por uma piada engraçada.

A expectativa e a quase magia que antecedia  este tipo de espetáculo, ficou também gravada para sempre na minha memória. 
Esta magia, este belo ritual, já se perdeu. E é  disso tudo, desta magia. que eu sinto mesmo saudades.


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