ANIKI BÓBÓ
Em homenagem a Manuel Cândido Pinto de Oliveira, o conhecido cineasta Manoel de Oliveira, nascido no Porto, a 12 de Dezembro de 1908, recordamos aqui a sua primeira obra-prima, Aniki-Bóbó.
Alguns filmes, marcam-nos para o resto da vida e este filme de Manoel de Oliveira foi um deles, talvez pelo facto de me identificar bastante com aquele grupo de meninos livres, aventureiros e sonhadores. É um filme de culto do cinema português. Escrito no tempo em que se desenrolava a 2ª Guerra Mundial, transmite através das suas personagens uma implícita mensagem de paz.
“Aniki-Bóbó é um dos filmes mais perfeitos de Manoel de Oliveira. Um dos mais inquietantes porque é orgulhoso da sua candura. Compreende-se que pela vida fora, uma longa vida de cineasta a espera, haverá sempre aquele juramento, aquele velar de armas que é a criança constante e séria na sua descoberta do mundo, do amor, do desencanto e na reinvenção da sede que é a vida"
Agustina Bessa Luís, O Arcanjo Gabriel, catálogo do Festival de Turim, 2000, pg. 21
Alguns filmes, marcam-nos para o resto da vida e este filme de Manoel de Oliveira foi um deles, talvez pelo facto de me identificar bastante com aquele grupo de meninos livres, aventureiros e sonhadores. É um filme de culto do cinema português. Escrito no tempo em que se desenrolava a 2ª Guerra Mundial, transmite através das suas personagens uma implícita mensagem de paz.
“Aniki-Bóbó é um dos filmes mais perfeitos de Manoel de Oliveira. Um dos mais inquietantes porque é orgulhoso da sua candura. Compreende-se que pela vida fora, uma longa vida de cineasta a espera, haverá sempre aquele juramento, aquele velar de armas que é a criança constante e séria na sua descoberta do mundo, do amor, do desencanto e na reinvenção da sede que é a vida"
Agustina Bessa Luís, O Arcanjo Gabriel, catálogo do Festival de Turim, 2000, pg. 21
O filme é inspirada no conto "Meninos Milionários" do Dr. Rodrigues de Freitas, foi adaptado ao cinema pelo próprio Manoel de Oliveira, que escreveu os diálogos e se inspirou na sua vivência de menino passada no Porto. A fotografia, a preto e branco, esteve a cargo do fotógrafo amador António Mendes, que já tinha acompanhado Manoel de Oliveira por alturas de 1930 nos documentários cinematográficos como “Douro, Faina Fluvial”.
O título do filme, algo estranho, baseia-se na melopeia usada pelo grupo de crianças que o protagoniza, (Anikibébé Anikibóbó Passarinho Tótó
Berimbau Cavaquinho Salomão Sacristão.Tu és polícia, tu és ladrão). Formula mágica que permitia escolher quem era quem, nas suas brincadeiras
Aniki-Bóbó, desenrola-se no mesmo cenário de “Douro, Faina Fluvial”, a zona ribeirinha do Porto e de Gaia, por onde deambulam livremente, bandos de crianças pobres, em aventuras e brincadeiras. Meninos de rua que na calma da noite também sonham e conversam sobre as suas inquietações, o escuro, Deus, o Diabo, os fantasmas e as estrelas.
Manoel de Oliveira, por altura da passagem do seu 90º aniversário numa entrevista com João Bénard da Costa, disse:
"…Quais as intenções em Aniki-Bóbó? Certamente que as havia e bastante ambiciosas. Procurando contar uma história tão simples, queria reflectir nas crianças os problemas dos adultos, aqueles que estão ainda em estado embrionário; pôr em contraposição a noção do bem o do mal, do ódio e do amor, da amizade e da ingratidão. Queria sugerir o medo da noite e do desconhecido, a atracção pela vida que pulsa em cada coisa à nossa volta, com força e com convicção".
O enredo desenvolve-se em torno da história da rivalidade de dois dos rapazes que gostam da mesma miúda a Teresinha, a única menina do grupo. Os rivais são: o chefe do grupo Eduardinho, moço audaz, atrevido e brigão e Carlitos, um rapazinho, tímido, sossegado e sensível.
Eduardinho, constroi um papagaio de papel e desperta a atenção de Terezinha que passa acompanhá-lo. Carlitos enciumado e para a conquistar resolve que há-de oferecer-lhe a boneca a boneca que ela vira na montra da “Loja das Tentações”. mas não tendo posses para a comprar atreve-se a furtá-la e uma noite, subindo ao telhados vai bater-lhe à janela da água-furtada onde ela mora, para lha oferecer.
Após esse episódio, Teresinha começa a sentir mais inclinação para Carlitos.
Uma tarde quando o grupo brincava na beira de um talude, por acidente, Eduardo escorrega e cai à linha no momento da passagem do comboio. O drama abala todo o grupo e instala-se a incerteza sobre o estado de saúde de Eduardo. Teresinha e os outros pensam que Carlitos o empurrou e põem-lhe as culpas. Sentindo-se abandonado Carlitos tenta mesmo partir num barco ancorado no cais de Massarelos. Entretanto o dono da Loja das Tentações que vira o acidente, vem esclarecer tudo e trazer a paz ao grupo, ao mesmo tempo que se sabe que Eduardinho está livre de perigo e recupera bem. O filme termina com Carlinhos e Terezinha a caminhar de mãos dadas com a boneca de permeio com significado óbvio.
Aniki Bóbó estreou no cinema Éden, a 18 de Dezembro de 1942, não tendo acolhido a simpatia do público, que não entendeu a mensagem, assim como parte dos críticos portugueses.
Fernando Fragoso escreveu na “Vida Mundial” de 07/01/1943 :
"Uma tarde de Agosto, fez este verão um ano, Manoel de Oliveira leu a algumas pessoas, entre as quais me encontrava, a história de Aniki-Bóbó que não tinha ainda este título tão impopular. A história foi discutida durante horas e Manoel de Oliveira defendeu-a com entusiasmo de quem havia imaginado e desenvolvido. Quanto a mim, considerei-a, desde logo, anti-comercial e demasiadamente literária para poder suportar a ampliação humana que a tela, necessariamente lhe conferiria. Procurámos convencer Manoel de Oliveira que a sua história carecia de verdade humana e que, com outro desenvolvimento, que unisse aquelas crianças em torno de uma boa acção, lhe faria perder o ar de “Dead End Kids” tripeiros, com vantagem para o espectáculo e para a acção construtiva de que o filme, e sobretudo o filme português não deverá alhear-se. Esta norma é tanto mais para ponderar quando se trata do chamado “cinema sério”, do cinema em que se faz Arte pela Arte."
Quando estreou em Espanha, o filme, teve muito boa aceitação por parte do público espanhol e recebeu rasgados elogios da crítica.
Produtor: António Lopes Ribeiro
Decoração: José Porto
Música: Jaime Silva Filho
Som: Luís Sousa Santos
Montagem: Vieira de Sousa
Intérpretes: Nascimento Fernandez (o lojista), Fernanda Matos (Teresinha), Horácio Silva (Carlitos), António Santos (Eduardito), António Morais Soares (Pistarim), Feliciano David (Pompeu), Manuel Sousa (o filósofo), António Pereira (Batatinhas), Américo Botelho (Estrelas), Rafael Mota (Rafael), Vital dos Santos (o professor)
Exclusivos Triunfo
Portugal / 1942 / preto e branco / 71' / 35mm
Distribuição: SPAC
(Fotografias e pesquisa para o texto internet)
"Uma tarde de Agosto, fez este verão um ano, Manoel de Oliveira leu a algumas pessoas, entre as quais me encontrava, a história de Aniki-Bóbó que não tinha ainda este título tão impopular. A história foi discutida durante horas e Manoel de Oliveira defendeu-a com entusiasmo de quem havia imaginado e desenvolvido. Quanto a mim, considerei-a, desde logo, anti-comercial e demasiadamente literária para poder suportar a ampliação humana que a tela, necessariamente lhe conferiria. Procurámos convencer Manoel de Oliveira que a sua história carecia de verdade humana e que, com outro desenvolvimento, que unisse aquelas crianças em torno de uma boa acção, lhe faria perder o ar de “Dead End Kids” tripeiros, com vantagem para o espectáculo e para a acção construtiva de que o filme, e sobretudo o filme português não deverá alhear-se. Esta norma é tanto mais para ponderar quando se trata do chamado “cinema sério”, do cinema em que se faz Arte pela Arte."
Quando estreou em Espanha, o filme, teve muito boa aceitação por parte do público espanhol e recebeu rasgados elogios da crítica.
Produtor: António Lopes Ribeiro
Decoração: José Porto
Música: Jaime Silva Filho
Som: Luís Sousa Santos
Montagem: Vieira de Sousa
Intérpretes: Nascimento Fernandez (o lojista), Fernanda Matos (Teresinha), Horácio Silva (Carlitos), António Santos (Eduardito), António Morais Soares (Pistarim), Feliciano David (Pompeu), Manuel Sousa (o filósofo), António Pereira (Batatinhas), Américo Botelho (Estrelas), Rafael Mota (Rafael), Vital dos Santos (o professor)
Exclusivos Triunfo
Portugal / 1942 / preto e branco / 71' / 35mm
Distribuição: SPAC
(Fotografias e pesquisa para o texto internet)
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