Angola 1970, Odisseia na estrada



Jamba, na década de 70. Vamos a até Nova Lisboa? Que aventura!
No sábado, mais ou menos ás duas da tarde, metíamos as crianças no velhinho Opel Olympia de 1955, carregado com os sacos e maletas de roupas para o fim de semana, uns bolinhos, água e sumos e partindo do Jamba, faziamo-nos à estrada, para uma escapadinha de fim de semana.
Se não tivéssemos nenhum percalço, antes das cinco horas, estávamos em Nova Lisboa.
Nas férias, a bagagem era maior, pois iríamos permanecer alguns dias na cidade. Saíamos do Jamba, cedinho e levávamos as crianças ainda de pijama para o carro. Fazíamos o mesmo percurso, mas parávamos no Chipindo, para as vestir e  recompormo-nos, da viagem antes de entrar na capital do Huambo.
Naquela época, chamávamos estrada, a uma picada poeirenta e esburacada, que ligava os 311 km, que separam o Jamba, do Huambo. Aquele caminho ainda hoje, à distancia de quatro décadas, me parece quatro vezes mais longo. Não havia tempo, nem disposição para admirar a paisagem. Ver a paisagem, só quando íamos na carreira da EVA, junto com os sacos e as galinhas.
Havia pouco por onde fugir aos buracos, nós bem podíamos ziguezaguear, mas se fugíamos de um, logo caíamos noutro. Depois eram aqueles trechos chamados de "costela de vaca", entrávamos então numa tremideira infernal.
Sem paciência, e com a pressa de chegar, acabávamos por dirigir a direito sem ligar a buracos, o que algumas vezes nos custava umas paragens inesperadas. Os brincos de mola resistiam pouco.
O velho Opel de mudanças ao volante e tracção à frente, tinha a força de um tractor. A nuvem de poeira vermelha que elevava ao passar dava para camuflar uma manada de elefantes. (felizmente nunca me deparei com nenhuma no caminho, apenas coelhos e muitos).  Molas e amortecedores, resistiam pouco, aquele trajecto. Como as borrachas estavam ressequidas do sol a poeira entranhava-se no habitáculo, acentuando-se, quando a batida  no buraco, era mais seca.
Como nós, também outros mineiros, efectuavam o mesmo tipo de viagem, normalmente aos fins de semana. 
O trânsito era escasso ou nulo, mas quando alguém, mais "apressado", nos ultrapassava, ficávamos momentaneamente cegos com a poeira que se levantava com a sua passagem.
Invariavelmente íamos de roda batida, até à cidade do Huambo, mortinhos para tomar um banho refrescante. Mas às vezes parávamos um pouco algures, para satisfazer alguma necessidade fisiológica.
Se no tempo do cacimbo, eram o pó e os buracos os obstáculos, no tempo das chuvas eram os buracos e a lama. 
As viagens de volta eram quase sempre, feitas de noite, e tornavam-se um pouco mais demoradas, a estrada ficava mais estranha, diferente, mais longa e tenebrosa. Os buracos continuavam lá.  A chegada ao Jamba, era sempre um alívio, terminava ali, mais uma odisseia, estávamos no conforto do nosso lar, prontos para no dia seguinte pegar ao trabalho.

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