CINEMA PORTUGUÊS - A ROSA DO ADRO


Em Junho do ano passado, escrevi neste blog, um trecho sobre um filme baseado no romance de Júlio Dantas “A Severa”, que foi o primeiro filme português falado, dirigido por Leitão de Barros datado de 1931. Hoje vou falar-vos de um filme mudo de Georges Pallu, filmado 12 anos antes. 
O realizador, Pallu, na adaptação que fez, manteve no filme o mesmo espírito dramático do romance. Achei interessante vir aqui falar dele, porque há algumas semelhanças entre este filme e o filme de Leitão de Barros.

Na sequencia do plano, traçado pela Invicta Film, de adaptação a cinema de obras Literárias de sucesso, Georges Pallu ainda filmou a adaptação do conto inédito de Júlio Dantas “Frei Bonifácio”, que estreou no Olympia de Lisboa, a 4 de Outubro de 1918, com algum sucesso, mas logo no ano seguinte, adaptou a cinema, este que é um dos maiores Best Sellers da literatura portuguesa, o romance “A ROSA DO ADRO”, (1870), da autoria de Manuel Maria Rodrigues, (que, à data, já ia na 24ª edição, o que equivale a 1 edição de dois em dois anos). O filme “A Rosa do Adro”, estreado no Sá da Bandeira do Porto, a 16 de Julho de 1919, é aquele de que vos vou falar.
O produtor Alfredo Nunes de Matos, possuía no Porto, uma pequena empresa, que fundou em 1910. Dois anos depois mudou-se para uma dependência no Jardim Passos Manuel e batizou a firma com o nome de “Nunes de Matos & Cia – (Invicta Film)” A firma produzia documentários diversos, de propaganda comercial e industrial. Atualidades, fornece jornais nacionais para as prestigiadas firmas estrangeiras Pathé e Gaumont. Faz alguns filmes de alguma importância, como As Manobras Navais Portuguesas, ou As Grandes Manobras de Tancos, preparação das tropas portuguesas para um eventual conflito. Vende centenas de cópias, para a Europa e para o Brasil, do Jornal de Atualidades, que causa sensação em Portugal e no estrangeiro.

A guerra estava eminente  e um banqueiro otimista, José Augusto Dias, resolve apostar no projeto, da “Nunes de Matos & Cia - (Invicta Film)  tendo lhe valido nos momentos difíceis. Em 1916, em Lisboa, o embaixador alemão, anuncia que a Alemanha declara guerra a Portugal. Apesar da crise que a notícia trouxe consigo a empresa até consegue modernizar-se. O projecto de Nunes de Matos consolida-se com a adesão de outros interesses, de gente bairrista do Porto, à frente de quem está o banqueiro José Augusto Dias. Em 1917 é assinada a escritura de uma sociedade por cotas, de responsabilidade limitada, designada como Invicta Film Lda. Um ano depois, Nunes Matos e Henrique Alegria, responsáveis da Invicta Film, vão de visita a França, Nunes de Matos declara, numa entrevista ao jornal «O Século»: «Vou em primeiro lugar a Paris e à Itália procurar o que há de melhor, a última palavra em mecanismos. Porque o meu principal intento é emancipar-me de estrangeiros, embora não deixe de concordar que, para começo, é lá que tenho de ir buscar tudo». Deixa também claro que tenciona trazer de lá um régisseur à altura das suas ambições. A escolha veio a calhar em Georges Pallu, dispensado pela Pathé Frères,  de França, e que acabou por ficar em Portugal, até ao encerramento dos estúdios em 1928. Este encerramento, dá-se no ano em que na América é lançado primeiro filme sonoro “The Jazz sing”. Nós teríamos que esperar mais três anos, para ouvirmos falar português num filme.
A Rosa do Adro, é um filme mudo, tem a direção de Geoges Pallu e o argumento é do próprio Georges Pallu e de Henrique Alegria.
Pallu fez decorrer a ação do filme no Minho, retratando a paisagem, os costumes e os traços de carácter dos nortenhos. Para o papel principal do filme, Georges Pallu, apostou na professora da filha, uma estreante sem prática de cinema ou de teatro, chamada Maria de Oliveira, que ficou sendo considerada a primeira atriz cinematográfica portuguesa. A organização publicitária ficou a cargo de Raul de Caldevilla
O filme conta a história de Rosa (Maria de Oliveira), uma bonita costureira que vive com a avó (Maria Cristina). Rosa apaixona-se por um estudante de medicina, chamado Fernando (Erico Braga), filho de um lavrador abastado, que também a ama. Porém Fernando, vai estudar para o Porto e enamora-se de Deolinda (Etelvina Serra), filha da Baronesa de Fontarcada (Georgina Gonçalves). Há no entanto um rapaz, amigo da família, chamado António (Carlos Santos), que sente por Rosa uma grande paixão e quando descobre que Fernando a atraiçoa, tenta defende-la do desgosto que lhe causará essa atitude de Fernando. Para vingar Rosa, António vai ao Porto falar com Fernando depois de uma discussão, agride-o violentamente. Entretanto Deolinda a filha da baronesa, acaba por dispensar o amor de Fernando e este decide-se então a casar com Rosa. António acaba por descobrir que é irmão de Rosa, perdendo o interesse que outrora nutrira por Rosa.
Há entre este filme e o filme de Leitão de Barros uma semelhança de fórmula, que salta á vista. O mesmo triangulo amoroso, o mesmo tom fatalista, e a mesma formula de sucesso. Rapariga pobre apaixona-se por rapaz rico, rapaz rico é seduzido por rapariga rica, rapariga pobre sofre de ciúme. O filme foi um enorme sucesso, (talvez o maior da Invicta Filmes). O filme A Rosa do Adro, circulou pelo menos em França, Espanha  e no Brasil. A este filme seguiram-se outros também eles, adaptações de Romances portugueses.

Até à chegada do sonoro, o filme mudo chegou a atingir um nível de altíssima qualidade, por toda a Europa e EUA. Os épicos americanos, os surrealistas alemães, os experimentalistas franceses e soviéticos, recebiam nessa altura os maiores aplausos da crítica e do púbico, graças aos grandes realizadores como Abel Gance, Ernst Lubitsch, Murnau ou D. W. Griffith.,que tinham o poder de criarem universos fantásticos. A montagem era vista à altura como a base da linguagem cinematográfica e era à sua volta que os filmes eram construídos e aperfeiçoados. Em 1925 o soviético Serguei Eisenstein faz do Couraçado Potemkin um perfeito exercício de construção fílmica com base na montagem. O filme foi um sucesso e personificou tudo o que o cinema mudo tinha alcançado. Muitos dos realizadores, principalmente na Europa, achavam agora que o cinema era digno de ser visto como arte. Mas aparecimento do sonoro tudo mudou. O desempenho dos actores, que fora marcado sempre por uma notável pantomina, foi substituído por vozes estridentes, muitas delas sem a mesma intensidade dramática que se exigiria. A solenidade de uma cena desaparece com o advento do sonoro. O som do choro substitui a imagem da actriz em sofrimento com todo o aparato típico do filme mudo. Era uma realidade que terminava e outra que dava os primeiros passos. E como era natural muitos estavam contra. Aliás, a maior parte das pessoas via no sonoro uma moda passageira. Mas com o sincronismo absoluto do som e com o sucesso de grandes filmes o filme sonoro depressa se impôs, como verdadeira 7º Arte.

Pesquisa: internet
Fotos: internet

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